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quarta-feira, novembro 24, 2010


A fisionomia escondia a idade, uma juventude serôdia onde as cãs começavam a branquear, depois o trejeito muito peculiar de falar com as mãos, num gesto de latinidade precoce, onde se juntavam décadas de desafios e, incertezas.

A eloquência era o silêncio, naqueles tempos de noites escuras, e onde , até em Familia o gesto era um bendição quase divina e, necessária

Não se podia acreditar em todos, por serem diferentes como os dedos da mão..

João R. puxara a si a hercúlea tarefa de transportar as importantes directivas para fora do gulag.

Naqueles anos do quase final da Ditadura, ninguém imaginaria que o alegre e fogoso jovem era uma peça importante dentro Partido, que nunca por nunca a "ele" fora referenciado pela Policia política que tinha "controleiros" até dentro da estrutura celular do Partido, que na clandestinidade se servia de muitos patriotas e exilados políticos para fazer das suas..

Aquele dia amanhecera radioso, o Sud Expresso há muito saíra de Lisboa e a temperatura exterior nada condizia com a época do ano, o final da Primavera chuvosa e incerta. No combóio apinhavam-se forasteiros, poucos, muitos emigrantes e estudantes, um sem número de mulheres de aparência sadia, e a um canto, um jovem de mala estudantil, de feições grossas olhar de uma intensidade fria e uma voz ligeiramente grave. Cantarolava uma canção muito em voga de Charles Asnavour, "que c'est triste Venise" , ao seu lado a rapariga , ela igualmente estudante de Arte na Sorbonne, fechava os olhos a mendigar por um descanso sobressaltado pela voz do colega.

De vez em quando a jovem emendava o francês do ora cantor, e soletrava palavra a palavra. O sorriso advinhava-se por entre os dentes brancos e emoldurados, um sorriso brando e de beleza fenìcia..
(SEGUE::)


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